quinta-feira, 30 de setembro de 2010

PRECISO ACREDITAR

Que satisfação,alegria, podia-se ver naquela aspirante à escritora... Quanta dedicação!
Frente ao PC se completava; seus dedos deslizavam, rapidamente, sobre o teclado, o dom de criação literária fluía, como que,puras águas de uma nascente.

Isso inquietava os seus familiares, o fato de Doroni se isolar, e dedicar-se apaixonadamente à escrita... Suas obras eram maravilhosas. A sua serenidade em meio às guerras, no seio familiar, onde ela e a sua paixão eram alvos diários impressionava. Quem poderia entender?

Havia um riso no seu semblante... Podia-se perceber que, ela se revestia de uma armadura poderosa frente ao PC; os projéteis que lhes lançavam, não faziam efeito... Simplesmente ela não estava ali!
Quanta inspiração!

Existia uma torcida contrária quanto ao seu almejado sucesso - dentro do próprio lar - e, muitas vezes, enquanto o marido esbravejava, e os filhos tentavam desencorajá-la... Simplesmente, ela se fechava em seu mundo imaginário... e, criava , criava...

Ao contrário do que disse Virgínia Woolf “(...) É necessário ter quinhentas libras por ano e um quarto com fechadura na porta se vocês quiserem escrever ficção ou poesia.”

– Certamente, Virgínia Woolf se referia a um espaço físico, e metafísico; à independência de se obter um espaço, onde se pudesse usufruir da liberdade de ter e escrever em paz; da independência financeira, para se manter nesse espaço e quebrar os grilhões do autoritarismo e da castração, não só oriunda do machismo – sentimento que denota ódio. Na realidade a mulher sempre foi alvo do sexismo e de sua peculiar característica, concernente ao favorecimento ao sexo julgado dominador, em detrimento do então - por eles - julgado frágil; da misoginia – que é a aversão a tudo quanto seja feminino.

É notória e comprovada a dificuldade de a mulher si fazer notar através de sua escrita. Isso, desde o século XIX, quando então, temos conhecimento da existência da “écriture féminine.” Pois, a mulher, tal qual, o ar, o vento, e a camada de ozônio – são necessários, podemos dizer: vitais, porém, invisíveis para a maioria -.
Mesmo em se tratando de Virgínia Woolf, tão complexa e mergulhada em sua invisibilidade; tão inconformada com o ser e o não ter chegado a ser... Optou em por fim a própria vida. Dessa forma, o ser complexo e invisível, alcançou de forma complexa e impactante a “visibilidade literária,” como de fato, hoje, se vê.

– Doroni começou a escrever para alguns sites literários. E, assim, deu início ao fim do seu anonimato. Logo se destacou. Em meio às dificuldades financeiras, pelas quais, a família passava, com muito esforço, daqui e dali, conseguiu juntar um pouco, para tornar real o que tinha por sonho: a publicação do seu primeiro livro.

Pensou ter surgido a oportunidade sonhada...
Um site tido por confiável enviou-lhe uma proposta, para publicar seus escritos, em E-BOOK, vantagens e mais vantagens; divulgações, e tantas outras promessas fizeram o coração de Doroni pulsar forte, e os seus olhos ganharem o brilho, de quem poderia, enfim, realizar o início de um grande sonho, e, mostrar a torcida contrária, que vale a pena perseverar... Confiar.
Para quem, com grande esforço, juntou a soma devida para tal publicação, realmente se tratava de uma pequena fortuna, adquirida através de renúncias, de abrir mão do que é imprescindível para a mulher; quantas coisas ficaram para trás...economizando sempre a cada dia.

A família gritou:
– Você vai depositar dinheiro para os outros? Sem nenhuma garantia? Sem um contrato ou recibo? precisamos pagar às contas... e, você coloca as suas economias, nas mãos de quem não conhece; vão lhe fazer de tola mulher! Quantos concursos, quantas taxas, quanto dinheiro, a escoar pelo ralo!

– Eu preciso acreditar Rafael! Eu preciso tentar!
– Pelo menos tenha sabedoria: Fotografe tudo que você puder: o histórico do MSN onde você acertou com o dito site; o preço cobrado, e-mail que você enviou e, recebeu; extrato bancário com os dados e data bem visíveis e tudo o mais. Até mesmo às promessas através de mensagens, faça uma pasta, mulher! FOTOGRAFE!
Não seja boba!

–Está certo Rafael. Vou me cuidar, vou fazer assim mesmo, como dizes.

–Assim, foi feito!
Doroni se precaveu... e, viu que Rafael estava certo.
Ela ainda espera que o site cumpra a parte acordada.

Porém, Doroni foi duplamente recompensada,através de confiáveis que surgiram em sua vida – felizmente existem!
E a melhor justiça é a exercida por Deus, quem poderá dela escapar?
Afinal de contas é preciso acreditar!


EstherRogessi, Conto: Preciso Acreditar!25/04/10. Categoria: Narrativa.Imagem Web.Art:By EstherRogessi.

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Quem sou eu

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Baronesa da Gothia Rogessi de A. Mendes (EstherRogessi). Pernambucana, outorgada com Título Nobiliárquico - Alta Insígnia BARONESA DA GOTHIA da Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente, DAMA COMENDADORA da Real Ordem dos Cavaleiros e Damas Rei Ramiro de Leão. Comendadora pelo CONINTER ARTES.. Escritora UBE/SP; Embaixadora da Paz (FEBACLA); Artista plástica, Membro Correspondente de várias Academias de Letras e Artes Nacionais e Internacionais. Consulesa e Comendadora. Tem escritos publicados em Antologias e Revistas Virtuais, no Brasil e exterior. Publicou o seu primeiro livro solo, pela Editora Literarte intitulado "Conflitos de uma alma" Romance ISBN 978-8-5835200-8-5 EstherRogessi recebeu várias premiações nacionais e internacionais.