sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Quando a velhice chegar


Deito a espera do que não vem – o sono. Recebo uma visita inesperada... Entrego-me a ela. Lembranças e pensamentos ganham voz: amanhã irei jogar futebol defenderei o time da firma. Ah! Como eu gostaria que não houvesse jogo... Um time de gordos, pesadões, cujo único interesse é a feijoada após a partida.
Não se importam em ganhar ou perder, só em comer. Se ao menos houvesse o incentivo de a feijoada ser prêmio ao time vencedor... Haveria uma esperança!

Inquieto... Levanto-me, desço e vou até a copa. Tomo água, ouço uma tosse insistente que, vem do quarto ao lado do meu escritório. São os meus pais que, estão morando conosco – a casa deles se encontra em reforma. Estão bastante idosos, para suportar os desgastes de uma construção. Vou até eles... abro a porta de mansinho. Vejo-os agarrados um ao outro. Tão velhinhos. O tempo deformou suas feições. Um dia – lembro bem – foram tão belos! Como minha mãe era formosa: cabelos negros e viçosos. Vasta cabeleira lhe emoldurava o rosto; corpo esguio, cintura fina – quando pequeno, a acompanhava as compras, e os homens a olhava. Eu ficava muito enciumado. A sua voz era daquelas que, procuro, hoje, e não encontro: doce, cheia de ternura – voz de criança – passava paz.
Meu desejo era de ficar coladinho a ela... Meu pai - homem forte - gostava de correr, de se exercitar. Alto, moreno. Louco de amor por minha mãe. Nunca os ouvi discutir. Estavam sempre juntos e, nós, os seus cinco filhos, sempre fomos unidos, mesmo brigando. Hoje, os meus irmãos estão distantes. Bem distantes... Só eu, moro próximo aos meus pais.
Em silêncio... Olhando para eles, vejo que o tempo desgastou seus corpos, suas feições, mas o amor que sempre os uniu, permanece. Ficou mais forte. Penso: quando chegar a minha hora; quando o viço do meu corpo acabar; quando quem carreguei nos braços, precisar me amparar; meus cabelos se fizerem ralos e minhas pernas seguir um passo arrastado; minha voz emudecer, e os meus olhos turvarem. E, a beleza da vida eu não mais poder ver.

Que pena!
Todas as experiências adquiridas ao longo dos anos, serão só minhas. Aos jovens restará viver as suas próprias experiências.

Puxei o lençol sobre eles, devagar. Beijei-os na fronte. Quantas vezes fizeram isso por mim, durante a vida...? Era a minha primeira vez!

Voltei ao quarto, à visita foi embora. Amanheci melhor e amando mais os pesadões do time de futebol.



EstherRogessi.Conto.Categoria:Narrativa03/12/10

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Quem sou eu

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Baronesa da Gothia Rogessi de A. Mendes (EstherRogessi). Pernambucana, outorgada com Título Nobiliárquico - Alta Insígnia BARONESA DA GOTHIA da Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente, DAMA COMENDADORA da Real Ordem dos Cavaleiros e Damas Rei Ramiro de Leão. Comendadora pelo CONINTER ARTES.. Escritora UBE/SP; Embaixadora da Paz (FEBACLA); Artista plástica, Membro Correspondente de várias Academias de Letras e Artes Nacionais e Internacionais. Consulesa e Comendadora. Tem escritos publicados em Antologias e Revistas Virtuais, no Brasil e exterior. Publicou o seu primeiro livro solo, pela Editora Literarte intitulado "Conflitos de uma alma" Romance ISBN 978-8-5835200-8-5 EstherRogessi recebeu várias premiações nacionais e internacionais.