sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A APAIXONANTE ARTE DE CONSTRUIR IDEIAS

O que me encanta no poeta é o seu poder nato, de transformar em letras os seus sentires; de gerir emoções inimagináveis, através do óbvio, do aparente, do que comumente, passa despercebido por muitos, e quando percebido... Reputado por nada, ou quando muito, por algo de pouco valor. O que é uma pedra? Algo comum que existe aos milhares, porém, dependendo de quem a olha, ou toca, pode ser transformada em um objeto construtivo, ou vice-versa; pode até ser transformado, em obra de arte – esculpida; ser transformada, ainda, em metáfora imortalizada, como aconteceu com a pedra citada no poema do “ícone poético brasileiro”: Carlos Drummond de Andrade, através do seu poema: No meio do caminho. Quando Drummond o escreveu, causou controvérsias e rejeições, por parte de alguns críticos da época, que não estavam à altura dos seus sentires. Um poema repetitivo, onde são enfatizados três vocábulos: pedra, meio, caminho, e o verbo TER no pretérito imperfeito: TINHA. Em todo o poema, apenas dois versos lhes dão um toque inusitado: “Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas.” Esses dois versos é o diferencial do repetitivo. Resta-nos o questionamento: De que o EU POÉTICO de Carlos Drummond,não esquecerá? "(...) Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra" A inanimada musa de Drummond, a PEDRA, neste poema, está sempre precedida do verbo TER no pretérito imperfeito: TINHA (...) No meio do caminho tinha uma pedra A conjugação desse verbo expõe os seus sentires; explicita o seu drama; soluciona a enigmática repetição dos vocábulos explicitados. Leiamos atentamente o poema: No meio do caminho Por Carlos Drummond de Andrade No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra Este poema é a perfeita síntese de um passado perturbador,já solucionado, na vida do poeta. O poeta, em idade avançada, lembra de um fato que impedia a sua caminhada; algo grande, aparentemente irremovível, porém, em dado momento deparou-se, com a solução tão óbvia, todo o tempo ao seu alcance, bem a sua frente; precisava tão pouco para se livrar do indesejado. A lembrança do que esteve todo o tempo ao seu alcance, sem que conseguisse enxergar, o faz repetir: “tinha uma pedra no meio do caminho...” Inesquecível foi a descoberta do quanto foi simples removê-la. Que possamos entender e alcançar o que está por trás das palavras. EstherRogessi

Nenhum comentário:

Quem sou eu

Minha foto
Baronesa da Gothia Rogessi de A. Mendes (EstherRogessi). Pernambucana, outorgada com Título Nobiliárquico - Alta Insígnia BARONESA DA GOTHIA da Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente, DAMA COMENDADORA da Real Ordem dos Cavaleiros e Damas Rei Ramiro de Leão. Comendadora pelo CONINTER ARTES.. Escritora UBE/SP; Embaixadora da Paz (FEBACLA); Artista plástica, Membro Correspondente de várias Academias de Letras e Artes Nacionais e Internacionais. Consulesa e Comendadora. Tem escritos publicados em Antologias e Revistas Virtuais, no Brasil e exterior. Publicou o seu primeiro livro solo, pela Editora Literarte intitulado "Conflitos de uma alma" Romance ISBN 978-8-5835200-8-5 EstherRogessi recebeu várias premiações nacionais e internacionais.