A mente humana lembra o que não se quer, nem se planeja.
São flashes em velocidade luz.
Lembranças... eis que em mim estão!
De um passado bem passado... quando criança, nos meus primeiros anos.
Não lembro da chuva, tal qual, chove agora, nem dos seus pingos, n’uma
poça d’água... Adélia.
Lembro de um caderno, página arrancada, para ‘dar vida’ a um barquinho,
que vi correr após a chuva, rente ao meio-fio da calçada...
De minha mãe... com certeza lembro! E, convicta falo: chuchu novinho, angu,
molho de ovos, rosas, amores, flores, cravos...não lhe inspiraram...
Quem sabe nisso também temos afins?
Fugas, reencontros, desencontros... E, uma loucura...
Onde os loucos- de-pedra... são os que se julgam sãos.
Lembro da lua..., eu correndo de cara prá cima n’uma vã tentativa
de fugir dela.
Coisa de doida... Adélia!
Dona Doida
Por Adélia Prado
Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.
O texto acima foi extraído do livro "Poesia Reunida",
Editora Siciliano - 1991, São Paulo, página 108.
Adélia Prado
EstherRogessi,Conversa Com Adélia (Inspirado no poema ‘Dona Doida’ de Amélia Prado).29/01/10.
http://afesl-es.ning.com/group/adliaprado
http://muraldosescritores.ning.com/profiles/blogs/conversa-com-adelia-inspirado

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