Aquela era uma das muitas visitas que eu costumava fazer a morada das velhinhas – a casa dita e tida, como que, de repouso -. Eu olhava cada uma delas e, podia sentir às suas ansiedades; os seus olhinhos brilhando em busca de encontrar aos seus filhos, entre os grupos de visitantes. Algumas, com sucesso, abraçavam seus familiares e se recolhiam a um cantinho para colocarem os assuntos em dia. Trêmulas, enrugadas, enfraquecidas e abandonadas...
Fiquei a meditar: no quanto se doaram durante suas vidas; em suas renúncias, em todos os sentidos, algumas, até mesmo, da própria comida, para livrarem aos filhos da dor da fome.
Pensar que, cada filho deve a sua existência a Deus e a quem Ele escolheu, para lhes gerar... Fato é que, muitas não si valorizaram como mães e, nem tampouco, ao filho. Porém, quantas mães ‘verdadeiras’, jamais se separaram dos seus filhos, ao invés disso, renunciaram a uma vida melhor por eles e, ao chegarem à idade em que mais precisam de afeto e aconchego familiar, se viram despojadas por esses filhos, de tudo quanto, construíram em vida.
Poderiam passar os seus últimos anos, convivendo com os netos. Pois, toda a dedicação prestada aos filhos no longo percurso de suas caminhadas, seriam enfim, compensadas.
Às desculpas que esses filhos costumam dar para se verem livres dos “pesados fardos” são às mais convincentes possíveis. E, vão desde o fato de não terem tempo para cuidar de suas mães, por trabalharem e não terem como deixá-las sós, até o curioso fato de estarem atendendo ao pedido da própria mãe que, assim decidiu.
Ora, como pode uma mãe que, quando com vigor, renunciou a tudo pelo filho, por estar sempre ao seu lado, resolver afastar-se dele para viver seus últimos dias na na solidão? Casa de repouso não é hotel. E, o que se nos apresenta nos dias de visita, com certeza, pode ser outra realidade...
O que mais pode alegrar a uma pobre e velha mãe que, usufruir do lar, dos filhos e netos? Sabemos, porém, que na maioria das vezes são as noras, as esposas desses filhos, que costumam com um jeitinho ‘AntiDeus’, dobrar os seus esposos aos seus caprichos, dizem: “sua mãe estará convivendo com gente da mesma idade, vai ser ótimo pra ela.”
Gente da mesma idade!
Todos sonolentos, ranzinzas, alguns briguentos, queixosos, chorões, doentes e outros que já morreram e, ninguém se apercebe, estando num cantinho isolados, clamando em seus espíritos pela hora de seus funerais, que será num caixão barato, pois, o salário deles, dirigido pela ‘casa de repouso’ não dará para nada melhor. Será que o seu filho e/ou filha comparecerá? Ou estarão dando tudo de si, aos seus pequenos e amados filhos?
Ouvi uma voz eufórica vinda de uma anciã que, corria para abraçar uma jovem senhora que, vinha em sua direção.
– ”Minha filha, minha filha! Você veio... Filha!
E, com tristeza, vi a jovem senhora abraçar outra anciã que, se encontrava próxima a velhinha eufórica... Fiz um sinal para uma irmã da igreja que, estava conosco nessa visita, e ela entendeu: caminhou para a velhinha e a abraçou, dizendo: – Estou aqui...! Estou aqui!
E as duas choraram juntas.
EstherRogessi,Crônica: A Dor da Ingratidão. Categoria: Narrativa. 09/05/10
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