sábado, 15 de maio de 2010

O SORRISO QUE O TEMPO NÃO APAGOU


Quando criança, eu morava em uma pacata cidade interiorana. Na nossa rua, haviam várias casas antigas, de famílias tradicionais. Bem em frente a minha casa, ficava a casa do doutor Aluísio – dentista de renome e muito querido por todos –, homem gentil, e popular, embora rico. Não se podia dizer o mesmo dos seus filhos e de sua esposa... Não falavam com ninguém! Embora eu fosse criança, tinha uma percepção grande das coisas. Calada e tímida... Eu ficava a conversar com os meus botões: – Que gente estranha e chata!...
Lá na esquina, tinha um grande casarão, pertencente a uma família muito importante da nossa cidade. Um terreno imenso rodeava todo o casarão. Nele havia uma fonte, bem no meio do terreno, decorada por gansos e guines, que nadavam despreocupadamente. Eu me encantava com tudo. Os pavões abriam as suas caudas em roda, em um colorido lindíssimo; às araras, faziam o seu canto intrigante, imitadas por um papagaio sapeca, que a todo o momento gritava: Alzira... Alzira...
Eu chegava até os muros do casarão e de ponta de pé, com esforço... Subia no gradeado, para observar o cenário surreal.
Alzira era a filha dos donos do casarão. Uma jovem senhora, muitíssimo bela!... De pele clara, cabelos finos, um ar altivo e ao mesmo tempo sereno...
Há coisas que o tempo não apaga... Sempre que me assentava à frente da casa, no chão, no degrau da frente – coisa de criança –, eu via passar aquela jovem mulher, trazendo em seus lábios, um sorriso contínuo. Hoje, eu penso: será que aquele doce e constante sorriso, era por ver o meu encantamento em observá-la? Apesar da minha pouca idade, aquele sorriso adentrava em meu ser.., a minha alma indagava o por quê de sempre a mulher ter um sorriso nos lábios...? Ah! Como ela era bonita... Eu assentada no chão, e ela, a me olhar de cima para baixo... Até os seus olhos, sorriam! O que pode fazer um sorriso...
O tempo passou! Porém, em mim, o sorriso da mulher ficou!
Tantos anos após, bem sei, que, certamente, tudo nela mudou: os lindos cabelos se tornaram brancos, surgiram às rugas... Mas, aquele sorriso... Com certeza, ainda transmite um estado de "Graça espiritual"...
Que o tempo que tudo transforma, não possa ter transformado aquele sorriso; que não se tenha perdido no tempo, da mesma forma que não o consegui apagar da memória... Tudo isto, que parece nada ser, vem docemente me fazer aprender, o quão importante é o quase nada do presente, na construção das lembranças futuras, nas vidas dos que hoje são crianças...


EstherRogessi,Conto cotidiano: O Sorriso que o tempo não apagou. Categoria: Narrativa
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Baronesa da Gothia Rogessi de A. Mendes (EstherRogessi). Pernambucana, outorgada com Título Nobiliárquico - Alta Insígnia BARONESA DA GOTHIA da Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente, DAMA COMENDADORA da Real Ordem dos Cavaleiros e Damas Rei Ramiro de Leão. Comendadora pelo CONINTER ARTES.. Escritora UBE/SP; Embaixadora da Paz (FEBACLA); Artista plástica, Membro Correspondente de várias Academias de Letras e Artes Nacionais e Internacionais. Consulesa e Comendadora. Tem escritos publicados em Antologias e Revistas Virtuais, no Brasil e exterior. Publicou o seu primeiro livro solo, pela Editora Literarte intitulado "Conflitos de uma alma" Romance ISBN 978-8-5835200-8-5 EstherRogessi recebeu várias premiações nacionais e internacionais.